Diariamente me reúno com clientes, fornecedores, prospectos (com formação técnica ou não), e sempre me deparo com esta interrogação de empresas e profissionais diversos, sobre o escopo, abordagem e benefícios da Engenharia Do Proprietário. Afinal o que é a Engenharia do Proprietário?

É nítido que a Engenharia do Proprietário, aqui nestes lados do hemisfério sul, ainda é desconhecida pra maioria das empresas, públicas, privadas, grandes ou pequenas.

Entretanto a Engenharia do Proprietário, já há muito tempo, é amplamente utilizada em países desenvolvidos em empreendimentos diversos – ferrovias, aeroportos, plantas de geração de energia, transmissão de energia, foguetes, softwares, entre vários outros, e é o que diferencia os empreendimentos de sucesso daqueles que penam pra ser concluídos – quando o são.

Este desconhecimento dos evidentes benefícios da Engenharia do Proprietário, foi o que me motivou a escrever este breve artigo, totalmente introdutório, com algumas das minhas impressões sobre este notável ramo da Engenharia.

Empreendimentos de Engenharia, seja qual for a atividade comercial – ferrovias, portos, aeroportos, edifícios, estradas, e até satélites e foguetes, e etc, possuem características similares que os fazem ser definidos por “projetos”. Dentro de suas peculiaridades, cada projeto possui seus desafios, seus riscos inerentes às atividades, e seus fatores supervenientes chamados de “cisnes negros”, como diria Nassim Taleb, que podem e irão acontecer! e assim demandar replanejamentos afim de trazer o projeto ao plano anteriormente traçado.

Empreendimentos de engenharia, não importando a atividade comercial, possuem a missão de trazer retorno aos seus investidores. Seja uma fundo de investimento vislumbrando lucro com um condomínio logístico, seja o HCPA (Hospital de Clínicas de Porto Alegre cliente) nosso cliente, investindo em uma nova subestação de energia elétrica afim de ser atendido em classe de tensão mais alta, 69kV ao invés do atual 13,8kV, com intuito de reduzir custos com tarifas de energia elétrica, todo empreendimento deve ser financeiramente modelado, com orçamentos bem feitos, planos bem realizados, e por fim, executados com excelência, sendo acompanhados de perto pela Engenharia do Proprietário, afim do resultado esperado ser alcançado.

Nossos clientes podem ser enquadrados em 2 grupos:

  1. Grandes empresas, públicas ou privadas, com equipes de engenheiros altamente competentes na área de atuação da empresa, mas que precisam de apoio técnico, consultoria, fiscalização e gerenciamento de projetos na área de engenharia pesada ou energia, cujo escopo extrapola o know-how, ou a alocação (HH), da equipe de engenheiros existente;
  2. Empresas leigas, sem equipe de engenharia ou de projetos, com capital e interessadas em investir em algum ativo que demande Engenharia pra ser colocado de pé, e por isso precisa de um parceiro capaz de gerenciar e fiscalizar os investimentos da companhia sob as melhores práticas do gerenciamento de projetos mundial;

Em ambos os casos, a Engenharia do Proprietário se torna parte da equipe do “proprietário” do investimento, do dono da obra, da empresa que concebeu o projeto mas por qualquer motivo reconhece que não consegue tocar sozinha o empreendimento, tendo portanto que contar com especialistas para o apoiar tecnicamente afim de alcançar o objetivo final do empreendimento, seja lucro, patente, impacto social entre outros.

A “engenharia do proprietário” é uma expressão resumida das dezenas de atividades componentes de um empreendimento de engenharia, e a forma de sua atuação se dá de forma negociada e ajustada entre as partes. Não existe engenharia do proprietário padrão. Cada projeto é distinto e a prestação desse serviço é feita sob medida para cada cliente.

Alguns clientes podem dar autonomia completa, e querer que a engenharia do proprietário seja o preposto do empreendimento, tomando decisões técnicas, contratuais em nome do dono da obra.

Outros podem querer apenas ser comunicados dos problemas que ocorrem afim de tomar decisões conjuntas e compartilhadas.

Outros podem querer apoio técnico, com opiniões sob assuntos diversos, revisão de projetos, contratações, questões legais, contratuais, modelos, orçamentos entre outros.

Outros já possuem escopo definido, e apenas querem que a engenharia do proprietário garanta a execução conforme projetos já aprovados anteriormente por eles mesmos.

Cada projeto é distinto, mas é nítido que os projetos que não contam com a Engenharia do Proprietário enfrentam todo tipo de dificuldades, seja técnica, de execução, de qualidade, de passivos por falta de documentação entre tantos problemas que podem ocorrer.

Em suma a engenharia do proprietário irá “reduzir riscos e garantir a qualidade dos empreendimentos de engenharia”, sendo portanto, imprescindível. E sobretudo, irá defender os interesses do dono da obra, afim de que gere os resultados planejados.

Sabe-se que as empreiteiras possuem um conflito de interesses muito grande, pois o seu objetivo é “terminar rápido, usar materiais mais baratos, e embolsar os lucros”. Se o dono da obra não tem apoio técnico de confiança para checar isso, certamente terá problemas com a qualidade, prazos e custo do empreendimento, prejudicando toda modelagem financeira esperada.

Clientes leigos, que não contam com uma engenharia do proprietário parceira para apoio técnico, normalmente são passados para trás.

Já aconteceu com cliente nosso, que fechou com a empreiteira e autorizou o início um determinado projeto. Como não tinha conhecimento técnico não cobrou nem a ART (Análise de Responsabilidade Técnica), nem mais nada. Segundo ele confiou na palavra do dono da empreiteira, que nem engenheiro é.

Imagino o que seria dessa obra se não tivéssemos chegado neste exato instante. Vejam o drama: A empreiteira não tinha emitido nem ART, não tinha feito projeto elétrico das intervenções, não tinha laudo estrutural que comprovasse que o aumento de carga não iria comprometer as estruturas, não emitiu seguro de obra, não tinha lista de funcionários e documentação trabalhista e de segurança do trabalho. Não tinha plano, meta, cronograma. Uma bagunça completa. Isso só pra falar do básico, fase de preparação e planejamento. Na fase de execução os problemas só tendem a aumentar.

Por isso a engenharia do proprietário se torna imprescindível, e pode vir muito antes das contratações, subsidiando o cliente durante as modelagens e decisões, analisando capacidade técnica dos proponentes, realizando “surveys” entre tantos serviços de consultoria necessários.

O nosso trabalho, enquanto engenharia do proprietário, é minimizar riscos aos investidores, e donos das obras (proprietários), e garantir que eles não terão nenhuma surpresa durante ou depois das obras.